Com as declarações bastante enfáticas do ministro Carlos Lupi, publicadas nos jornais de sexta-feira, com a decisão da Vale do Rio Doce, segunda maior empresa do País de iniciar um processo de demissões, e sobretudo com a pesquisa do IBGE revelando que o PIB recuou em outubro, torna-se evidente a chegada da crise econômico-financeira no Brasil. Não há como negar.
Os reflexos aí estão aos olhos e bolsos de todos. O mais intenso e direto a redução do mercado de trabalho, aliás para onde todas as crises deságuam. Extremamente preocupante principalmente porque a população permanece crescendo e, com a retração dos investimentos e do Produto Interno Bruto, cai a renda per capita cai, já que ela é a divisão do PIB pelo número de habitantes, que dirá os parâmetros de distribuição de renda?
Esta, semdúvida, passa de mal a pior. A crise não é episódica ou de curto prazo. Nada disso. Quando começou, em artigo publicado simultaneamente no “Financial Times”, de Londres, e na “Folha de S. Paulo”, lembro bem, o megainvestidor financeiro George Soros calculava que teria duração mínima de dois anos. Isso porque, quando explode, as crises financeiras afetam fortemente as administrações públicas.
É o que está se vendo em diversos países do mundo, a começar pelos Estados Unidos. Não é possível, inclusive, que a onda de impasses que atinge a economia que representa em terço do produto mundial deixe de se refletir e abalar todo o universo econômico. O Brasil não foge à regra.
Quando um ministro do Trabalho, no caso Carlos Lupi, antecipa as dificuldades exatamente do mercado de trabalho, não pode haver razões para otimismo. O consumo vai diminuir de cara neste fim de ano. Quem se sente seguro em assumir dívidas se não sabe se amanhã continuará ou não empregado? Não é possível exigir-se heroísmo ou que pessoa alguma assuma o risco exagerado. A compressão do mercado de trabalho, de outro lado, vem provar novamente que não possuem efeito social as medidas do governo liberando recursos para que empresas enfrentem a crise.
A crise não é do sistema empresarial em sua origem. A crise desloca-se de plano para o consumo. Não é apenas uma questão de financiamento ou de protelação no pagamento de impostos por parte das pessoas jurídicas. É, isso sim, de poder aquisitivo das pessoas físicas.
As injeções de recursos em meio à teia de demissões ou ameaça de dispensas não são capazes de manter a economia aquecida e a produção estabilizada. Caindo o consumo, cai a produção. E o dinheiro público, que, afinal de contas, é onde começa e acaba tudo, termina servindo para que as empresas apliquem em títulos públicos no mercado financeiro.
Os juros - vale lembrar - são de 13,75 por cento ao ano para uma inflação que o IBGE aponta ser de 6,7 por cento para os últimos doze meses. A lucratividade com estas aplicações, evidentemente, não fomentam compras de produtos, tampouco poderiam fazê-lo. Resultado: maior concentração de renda, pior distribuição dela. Isso é sensível e visível. Não adianta estudos mirabolantes apontando a passagem de integrantes das classes de menor renda para segmentos de classe média.
Tais projeções só funcionam no papel ou nas telas dos computadores. Não na realidade. Muito menos no bolso de todos os que vivem de seu trabalho e lutam no dia-a-dia para sustentar a si e suas famílias e poderem melhorar as suas vidas e as dos seus. Este constitui objetivo válido para a sociedade, impulso natural da própria vida humana. Mas como conseguir melhorar patamares se falta o essencial? Falta o emprego. E sem emprego não pode haver progresso coletivo.
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